terça-feira, 3 de março de 2009

Proletariado Paulista e os Pelegos do Regime Militar

Proletariado Paulista e os Pelegos do Regime Militar

Gostaria de expor algumas considerações do modelo imperativo do regime militar e as liberdades das reivindicações trabalhistas. Já havia histórico de luta trabalhista, desde a greve de 1917, iniciada no Cotonifício Rodolfo Crespi, da industrialização tardia, pelas mãos de um operariado incipiente, mas ativo. Evidentemente que em outro momento, mas com maciça participação popular, além de outras tantas havidas contra outros regimes autoritários.
Não seria assim, no fim da década de 70, a primeira luta operária; havia um histórico a ser respeitado.

Para melhor governar fragmenta-se para evitar fortalecimento, receita usada pelos governantes e usando ainda pelegos (couro de costado de montaria e montador), para fazer contato entre os dois lados litigiosos, geradores de conflito, no caso do empresariado e o trabalhador.
O governo militar era o “arbitro” para não desestabilizar a economia, e não deixar o “bolo” parar de crescer, pousava de bonzinho nesta questão arbitrária. A maior diferença era contra o regime autoritário e controlador de todos os seguimentos de produção. Deveria ser luta contra duas frentes, político econômico, que se unia para melhor ditar as rédeas do cabresto e cangalha no trabalhador.

Nos sindicatos, por sua vez as atividades eram exercidas de meia dúzia de “brutamontes”, pelegos de formação, que não queriam mudar a condição do operário, mas a condição de oportunistas interessados também pelo poder. Afastaram o “picador de cartão” das discussões, que não concordavam como eram dirigidas as negociações, em sumário desterro, expurgo daqueles que estavam interessados nas causas exclusivas do trabalhador, mas discordavam em atrelar sindicato ao partido, usando-o primeiro como trampolim político para atingir o segundo.

Para ganharem legitimidade, os pelegos aproximaram-se da estrutura das Comunidades Eclesiais de Base, para haver um escudo de proteção, apoderando-se de alguns movimentos de pastorais.
O movimento destes grupos, desde seu início, tinha por finalidade apoderar-se da máquina sindical. O sindicato era alimentado por mensalidades do trabalhador e do famigerado imposto sindical, recolhido de um dia do salário do trabalhador, do dia 31 de março, por coincidência dia do golpe, para alimentar o sistema administrativo sindical.

No inicio da década de oitenta “inventaram” o “imposto assistencial”, onde iriam descontar na fonte da folha de pagamento o percentual 2,5% em junho e 2,5% em dezembro, para que se houvesse litígio, o sindicato seria o mediador entre o empresariado e o trabalhador, advogando-o.
Fervia os movimentos em Santo Amaro, onde assassinaram Santo Dias, onde ainda há em frente à igreja da Vila Remo, uma lápide fria deste momento, onde tombavam o trabalhador, ou sumiam com ele. Os “lideres” não assumiam a frente de batalha com o aparato policial, mas eram os primeiros a dar entrevista televisiva.
A Lapa e Osasco eram também locais que eu conhecia por força de minha qualificação profissional, e fervilhava a luta operária, não somente luta exclusiva do ABC, e nem tão pouco somente dos metalúrgicos, embora louvasse o momento. O regime era insustentável por si só, tanto que antes de entregarem o poder na mão civil, em 1979, obrigaram a documentar anistia irrestrita.

Muitas vezes acionava-se o “gatilho”, reposição da inflação, dando o mínimo necessário para sustento da “prole” do proletariado. A percentagem nunca atingia o reivindicado, e era reposição das perdas inflacionárias. O “pelego” subia no carro de som com a proposta do “patrão” e com a do “sindicato”, com seus acordos firmados em portas fechadas. Aceitávamos por “osmose das moléculas”, levantando os braços, pois tínhamos a obrigação familiar para resolver. Na época havia comissão de fábrica formada com membros representantes do sindicato e o CIPA, que era a comissão para prevenção de acidentes, e dava aos escolhidos estabilidade no emprego.
O atrelamento ao sindicato dos metalúrgicos era inevitável, e existia um afastamento das forças entre São Bernardo e São Paulo. Sintetizando houve por bem formar dentro do sindicato um partido político, além de organizar “centrais sindicais” (alimentada por verbas estatais, semelhante aos partidos políticos) para agregar milhares de pequenos sindicatos, que era controlado e atrelado ao Estado através do imposto sindical, do fatídico 31 de março.

Atualmente a mídia mostra em horário nobre que o deputado de um grande partido luta pelos direitos trabalhistas, mas que não conhecem o piso da fábrica e não sabem a real condição do trabalhismo no Brasil, são os pelegos do Estado, vivendo a impostura dos “impostos”.

Há tempos perguntei em um debate acadêmico, a ilustre emérito doutor de uma das mais conceituada universidade brasileira: O governo confunde sua administração do Estado brasileiro com o modelo de administração do sindicato? Evidentemente que respondeu com um sonoro NÃO! Tenho dúvidas quanto ao modelo atual de agir e governar de ambos.
No hodierno, todos os seus lideres tornaram-se funcionários públicos em toda rede imaginável do sistema da máquina administrativa do regime, e sorteiam carros zero quilômetro nas comemorações de 1º de maio para haver quorum, sendo mais um show televisivo que uma manifestação do trabalhador!

Pondera-se ainda que, todo e qualquer regime totalitário é intolerável, pois usam apoderar-se de maneira vitalícia do poder. Seria propício existir duas legislaturas a todos os cargos administrativos das esferas governamentais, inclusive deputados e vereadores, e depois de exercerem seus dois mandatos, nunca mais deveriam voltar a usufruírem destes benefícios.

Deste modo registra-se a luta oculta de bastidores, do trabalhador e das estruturas que não estão nos livros de história do Brasil!

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