segunda-feira, 21 de junho de 2010

SONHOS MONUMENTAIS

Santo Amaro, São Carlos, Jau e a Volta do Monumento aos Aviadores

Raridades da aviação fizeram-me deslocar por 350 quilômetros, acrescidos pela ida a cidade de Jau, do comandante João Ribeiro de Barros, para vê-las neste maravilhoso acervo no “Museu Asas de Um Sonho”, da TAM, em São Carlos, além de certa relação com a cidade, pois meu bisavô casou-se na cidade em 1904. Saímos de São Paulo com a convicção de ir ao encontro da história, memória da audácia de homens desbravadores, e que minha formação acadêmica sempre perseguiu.
Quando jovem estudava na Avenida De Pinedo confluência com Avenida João de Barros, (outro erro crasso, pois falta o Ribeiro) onde neste local situava-se o Monumento pela amerissagem da primeira travessia Atlântica, entre continentes, nome antigo da avenida que circunda a Represa de Guarapiranga, depois mudada para Avenida Robert Kennedy, nome este sem relação alguma com o feito histórico. Depois de formado em mecânica industrial tornei-me projetista de ferramentas de fundição de motores Mecedes-Benz, na extinta SOFUNGE, na Vila Anastácio, Lapa, e lá passei a admirar ainda mais o pioneirismo da industrialização paulista, embora tardia, dava todo o suporte as necessidades “destes homens malucos e suas máquinas voadoras”. Fui estudar história, pois estava no sangue como autodidata; alcancei o bacharelado e licenciatura e assim comecei a perseguir um sonho: reabilitar a volta do monumento seqüestrado de Santo Amaro, na Capela do Socorro. Textualizei em 2008 “A Represa do Guarapiranga e a Primeira Travessia do Atlântico” dando referência ao "Monumento aos Heróis da Travessia do Atlântico", de Ottone Zorlini com escultura de bronze, denominada “Vitória Alada”, lembrança do sonho de Ícaro.
O descrédito por parte dos detentores de recursos do Estado fazia-nos perseverar e acreditar mais em poder reaver para o local citado o Monumento, e não estátua, em homenagem aos intrépidos aviadores, e que fora “seqüestrado” ao tempo do governo municipal, do então prefeito Jânio da Silva Quadros e levado em 1987 para a Praça Nossa Senhora do Brasil, na região do Jardim América, local sem vínculo nenhum com a travessia.
A saga do hidroavião JAHÚ e a volta do monumento tornaram-se obsessão. Em 2008 tentei rever o avião, que anteriormente estava na OCA, no Ibirapuera, Museu da Aeronáutica, mas o museu da TAM à época havia fechado para reforma, fiquei um pouco apreensivo por não saber quando poderia rever o JAHÚ, pois o mesmo havia sido abandonado anteriormente e estava em disputa judicial, havia o desrespeito com a “obra prima”, caso corriqueiramente comum com a história do país.
Neste ínterim o foco era lutar em prol da história pelo retorno do Monumento ao seu local de origem. Fiquei contente quando meia dúzia de abnegados estava sonhando o que eu também sonhava, integramo-nos para ir às autoridades locais buscar respaldo e adesão. No primeiro instante as autoridades mostraram-se céticos, sem saberem a importância do que nós achávamos importante, que era o Monumento no seu local de origem, na Represa de Guarapiranga. Fomos expondo a idéia como formiguinhas repassando nossa intenção ao rol de nossas relações. Os políticos não pareciam interessados, mas historiador “é um teimoso até a idéia se concretizar”; vendo uma oportunidade de efeito político os mesmos que se recusaram no passado abraçaram a causa e assim o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico, CONDEPHAAT, dava o aval para a volta do Monumento que tanto buscávamos reaver.
Repentinamente foram disponibilizados para operação de desmonte e montagem em seqüência criteriosa com recursos de emenda parlamentar, R$ 394.992,77 com centavos e tudo, para transportar o Monumento, marco da aviação. A batalha chegava ao fim, e o poder assumiu assim o retorno, com documentos oficiais. Esperamos que o translade seja feito com festividade à altura do feito, pela aviação brasileira sobrevoando o local com o merecimento que se faça jus.
Coincidentemente a TAM reabriu seu magnífico acervo para visitação, fato esperado por mim com certa ansiedade. Programamo-nos em ir atrás de rever nas “Asas de Um Sonho”, um sonho solitário que se tornou solidário, do Savóia Marchetti S-55 que foi parte integrante desta história, com os motores em V perfeitamente conservados, e aqui enaltecemos a perseverança da família Amaro e seu inesquecível comandante Rolim, pois como único exemplar no mundo, depois do que passou o hidroavião, podemo-nos orgulhar como brasileiro de possuir a única peça existente no mundo e com os dois motores Isotta Fraschini ASSO 500 HP
Do museu ainda deixo outra ressalva que era estar em frente com o Paulistinha, da Companhia Aeronáutica Paulista, de Baby Pignatari, da família Matarazzo, empresário da Caraíba Metais, que apaixonado por aviação e por uma atriz, nascida na Itália, à princesa Ira de Furstemberg brilhou nas telas do cinema, construiu nas matas afastadas da cidade um local aprazível para recebê-la convidando seus amigos, o arquiteto Oscar Niemeyer e o paisagista Burle Marx, (no hodierno nome perpetuado como parque) a dar o requinte ao local virginal de Mata Atlântica, no costado da Chácara Tangará, hoje condomínios entre Vila Andrade e Morumbi, em São Paulo, uma divisão de águas entre o urbano e o subúrbio.

O Thundebolt P-47 foi outro avião marcante, uma pelos feitos heróicos do “SENTA A PÚA!”, na campanha da segunda guerra mundial que a audácia do grupo de aviação de caça da FAB transformou ases da mais alta estirpe, muitas vezes sem o reconhecimento merecido por parte do Estado, mas foi também um “Monumento” que marcou meus olhos infantis quando meu pai levava-me a visitar os “oriundi” no “Bairro do Bixiga”. Estava lá um P-47 imponente na Praça 14 Bis, a praça esta lá sufocada pelos prédios e o Thundebolt “sumiu”. Uns falam que lá nunca houve um avião, outros que era a réplica do 14 BIS, mas minha mente gravou um instante óptico e ela não mente para mim.Depois seguimos para a cidade de Jau, paramos na “Praça Siqueira Campos” onde há um Monumento erigido em 1953, no centenário da cidade do comandante João Ribeiro de Barros e logo abaixo, na “Praça da República”, há talvez o mais antigo monumento relacionado ao feito, homenagem esta feita em 1927 pela comunidade sírio-libanesa, um pouco escondido atrás de uma fonte, entre folhagens. Seguimos ao “Cemitério Municipal Ana Rosa de Paula” e deparamos com o Mausoléu do Aviador, iluminado pelos raios de sol refletidos na morada de quem lutou muito e partiu cedo, mas deixando o legado de um sonho perseguido com todas as diversidades encontradas. Tive a feliz aproximação no Museu, com o presidente João Francisco Amaro, clássico anfitrião, requisitado pelos visitantes inclusive este missivista, falei de “nosso” sonho, ele ficou admirado, citei o valor do “resgate” do Monumento, ele ficou impressionado, disse-lhe que seria remoção e recuperação das peças, inclusive o “Capitel Compósito Romano” e limpeza do Ícaro Alado, não saberia dizer se o custo estava dentro dos parâmetros, mas havia na apresentação dos responsáveis um amadurecimento profissional.

Isto foi parte do que vi, indescritível, mas um pouco da historia da aviação nacional, e “quem dormiu e não sonhou perdeu o sono por não sonhar”!

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