segunda-feira, 15 de agosto de 2011

RUAS EM SANTO AMARO: BELCHIOR DE PONTES OU ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO

MUDANÇAS DE NOMES PARA CAIR NO ESQUECIMENTO O PERTENCIMENTO LOCAL

Mudanças de nomes em ruas não resolvem o problema urbano, inclusive afeta, em muito, documentos já existentes nominados anteriormente e é uma de tantas aberrações dos egrégios representantes além de honerar com as custas financiadas pelo erário público. Por essas arbitrariedades, imagina-se que São Paulo não possue urgências a serem sanadas pelos alcaides e seu edil, representantes máximos da Câmara Municipal. Nomes antigos e representativos para determinada localidade são alterados dando outra referência biográfica sem nenhum pertencimento, fora do contexto da localidade. Não que não merece haver menção, aquele que substiui o primeiro nome, muitas vezes supera em obras, mas não supera em valor de identidade.

EM AMARELO: ANTIGA RUA Pe. BELCHIOR DE PONTES (mapa da década de 1950)
EM AMARELO, A MESMA RUA COM NOME NOVO: GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO (mapa atual)
Vejamos dois dignos nomes, homenagem em uma mesma rua, em momentos diferentes em Santo Amaro e que se tornou referência para o mesmo espaço físico em dois tempos distintos:

PADRE BELCHIOR DE PONTES: BIOGRAFIA

Belchior de Pontes foi missionário, taumaturgo, exercendo seu sacerdócio na “Vila de São Paulo do Campo de Piratininga”, nascido a beira do rio Pirajuçara, São Paulo, sem referência de data precisa e batizado em 6 de dezembro de 1644, batistério que está na Cúria Metropolitana de São Paulo, sendo ele o quinto de uma prole de 15 filhos. Belchior tinha grande devoção a Nossa Senhora e com apenas 6 anos, foi pedir ao pai, Pedro Nunes de Pontes, que levasse sua mãe, Ignes Domingues Ribeira, enferma, que a levasse ao médico, mas que antes passassem pela Aldeia de Pinheiros, “residência criada pelo venerável padre José de Anchieta”, onde se venera(va) Nossa Senhora do Monte Serrat.

PARÓQUIA NOSSA SENHORA DO MONTE SERRAT: PINHEIROS

Após rezarem seguiram para o médico, mas quando este a examinou, achou-a inteiramente sã. Ajudava no sitio do Pirajuçara a lavrar a terra para o sustento de tantos da família até estar na idade dos primeiro rudimentos da gramática e ser enviado para a Companhia de Jesus, no Colégio em São Paulo tendo como Provincial o padre Francisco de Avelar, que o fez seguir para a Bahia, para ter seu noviciado árduo ou desistisse da empreitada, onde foi aceito em 25 de junho de 1670.
HERMA DO PADRE BELCHIOR DE PONTES EM ITAPECERICA DA SERRA:
Cidade instituida em 8 de maio de 1877, quando se emancipou do antigo município de Santo Amaro.
SANTO AMARO NO CAMINHO DE BELCHIOR DE PONTES

“Como era estudante, era justo que também tivesse suas ferias, para que até deste tempo tivesse que aprender. Há junto a cidade de S. Paulo, pouco mais de duas legoas de distancia, hum bairro, a quem deram o título de S. Amaro, porque em huma formosa, ainda que pouco ornada igreja veneraõ seus moradores como patrono este santo.He bairro aprazível por natureza em huma campina de tal sorte levantada, que, não perdendo o titulo de vargem, dá bastante matéria aos olhos para se divertirem.He cortada de hum formozo rio, sobre o qual por dous diversos lugares formarão seus moradores duas pontes, as quaes ainda que não imitaõ na perpetuidade as da Europa, por serem de madeira, imitaõ quanto he possível a perfeição da arte. Cobrem-se suas margens de arvoredo de tal sorte levantado, que servindo de lhe impedir bastantemente os rayos do sol, e produzir fructas, com que se alimentaõ seus peixes, naõ impedem, antes recreaõ a vista de que curiosa attençaõ o considera. He finalmente este lugar cercado por uma parte de outeiros, que como muralhas formadas pela natureza, parece que o querem defender das inclemencias do sol, quando se põem, se he que lhe não querem offertar hum levantado, e formozo mausoleo, quando morre. Neste bairro tam bem dotado da natureza morava huma sua tia, chamada Catharina de Pontes, em cujo sitio passava algumas vezes o tempo das férias nosso estudante...Desta sorte gastava as suas ferias em Santo Amaro” (Fonseca, p.18,19)

Foi consagrado sacerdote é enviado para às missões de São Paulo onde trabalhou por 40 anos nas aldeias de “Taquacocetyba, Mboy, São Joseph (dos Campos), Jacarey, Nazareth, Araçariguama, Marueri, Itapycyryca...” Não o reteve seu zelo no distrito de São Paulo, mas levou-o mais longe: “Ytu, Guaratinguetá, Taubaté, os sertões de Minas Geraes; percorreu ainda a costa até Pernaguá, subindo dali às Serras de Corityba”.

Tinha 73 anos quando foi enviado para a Fazenda de Araçariguama, onde permaneceu por dois anos. Em 22 de setembro de 1719 entregou sua alma ao descanso eterno.

EMBU DAS ARTES: A igreja começou a ser construída por volta de 1700 pelo Padre Belchior de Pontes em substituição à antiga capela da fazenda de Catarina Camacho situada não muito longe dali, também dedicada a Nossa Senhora do Rosário.

Há relatos de vários prodígios miraculosos, e, além disso, sua tenacidade preservou-se na cidade de Embu das Artes, (reconhecida em plebiscito de 1º de maio de 2011) anteriormente denominada M’Boy, interior de São Paulo, onde Belchior de Pontes idealizou a Igreja Nossa Senhora do Rosário que atualmente detém o Museu de Arte Sacra.

GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO: BIOGRAFIA

Nascido no Rio de Janeiro em 16 de julho de 1916, o general Roberto Alves de Carvalho Filho sentou praça em 1934. Chegou a patente de general de brigada em 1971 e a de general de divisão em 1976. Tinha diploma em Artilharia de Campanha e em Armas Modernas, cursos realizados no Forte Sill e Forte Bliss, nos EUA. Exerceu comissões em vários Estados do Brasil e foi chefe de Segurança Internacional do Serviço Federal de Informações. Em seu currículo constam também grande números de medalhas e condecorações, inclusive do Governo de Portugal. O general foi combatente da Força Expedicionária Brasileira - FEB na Itália. Em Fevereiro de 1979 substituiu o general Alvarenga Navarra no comando da 2ª Região Militar, em São Paulo. Faleceu em São Paulo no dia 20 de maio de 1979.(vide ref. 3)

O que fazer para que registros oficiais não sejam alterados de tempos em tempos ao bel prazer da autoridade de plantão da cidade de São Paulo?


Referências:

1- Fonseca, Pe. Manoel da. “Vida do Venerável Padre Belchior de Pontes”, Lisboa: Officina de Francisco da Silva, 1752 (Reeditado: Companhia Melhoramentos de S. Paulo)

2- Jordão, M.F. Embu: Terra das artes e berço das tradições. São Paulo: Noovha América, 2004

3- http://www.dicionarioderuas.com.br/LOGRA.PHP?TxtNome=RUA GENERAL ROBERTO ALVES DE CARVALHO FILHO&dist=72&txtusuario=& TxtQuery=1


Notas:

1- A Lei nº 14.454, de 27 de junho 2007, determina que as placas das ruas, avenidas, praças e logradouros públicos contenham informações sucintas sobre a origem, significado ou biografia de quem empresta o nome à via pública.

2- Em 18 de julho de 1865, em reunião dos vereadores Malaquias Rogério de Salles Guerra apresentou a seguinte proposta: "Havendo ruas e travessas denominadas sem significação alguma, e até menos conviniente, e tratando-se agora por occasião da numeração das cazas de minorar esse ramo do serviço publico, indico que seja nomeada uma Comissão de trez Membros para estudarem a materia e submetterem a aprovação da Câmara ás substituições que entenderem precisas."

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