sexta-feira, 21 de junho de 2013

Futebol e Miséria no Brasil: Por que não me ufano?

Profissionais do poder: “Hausmanização das Cidades Brasileiras”


O que escreveria o saudoso Daniel Piza[1]em O Estado de São Paulo a respeito de tão sublime momento histórico, não há com imaginar, mas dá para entender “por que não me ufano” de suas colunas!

Será que o povo acordou contra as mazelas do Estado? Será que os mandatários do desgoverno estão com os dias contados? Será que a “Primavera Brasileira” está chegando?

Pode ser, e que seja bem vinda desde que não assumam o controle das ações populares os partidos políticos e sindicalistas interessados mais em causas próprias do que as causas reais do país!

Parece existir agora um êxtase que sem dúvida terá repercussão e dificuldades de manter as ações apartidárias, vão sem dúvida aos poucos os escroques se aproveitarão do momento histórico para ditar as regras do jogo político assumindo para si as ações e que sempre tiveram a favor do povo. 

São sutis para reverter aquilo que geraram de tensão em beneficio próprio em futuras eleições. Sempre há a indagação por que separam as eleições municipais das federais e  não planejam uma única eleição. Porque não governam todos os eletivos em apenas dois mandatos, não fazendo da política profissão.

As sutilezas destes profissionais do poder fazem com que “pensemos que eles pensam que o povo não pensa” sobre as tramas governantes e que eles são os verdadeiros organizadores do país e podem mandar e desmandar ao bel prazer dos interesses particulares dos conchavos partidários.

Engraçado que no país há vários times de futebol e levanta-se a bandeira desta ou daquela agremiação, mas não temos no país a ideia política da esquerda ou direita, e aqueles que por ventura pensam em um modelo social é induzido a seguir os interesses da direita, a esquerda do Brasil é sempre “direita volver”.

Os quartéis estão sempre de prontidão para receberem ordens superiores de comando deste ou daquele governo momentâneo, e parecem existir  uma uniformização mundial para a repressão da massa, inclusive todos os uniformes são padrões globalizados e agem sempre com o mesmo modelo de operação de “avançar sobre as massas” de maneira a intimidar o protesto geral. A única coisa que amedronta os políticos é “a massa em movimento”, isto desde as primeiras comunas reivindicatórias culminado com a Comuna de Paris, que obrigou a “hausmanização” das grandes cidades, tão bem exposta por Walter Benjamin, no trecho de “Passagens”:

“A hausmanização que desfigura a cidade, coincide com o apogeu do capital sob (o governo) de Napoleão III. Ela aumenta uma especulação desvairada, e a bolsa substitui as formas tradicionais do jogo. Às fantasmagorias do espaço, que constituem a experiência do flanêur[2]·, correspondem as fantasmagorias do jogador. Durante os trabalhos, os operários se refugiam nos subúrbios, expulsos pelos aluguéis altos. O verdadeiro objetivo das obras de Haussmann, (Georges-Eugène Haussmann, prefeito do Sena, que incluía de Paris) , que se intitulava “artista demolidor” (artiste demolisseur) era facilitar o transporte das tropas das casernas aos bairros populares, e impedir, pela largura das avenidas, a construção de barricadas”. (Freitag, p. 58)

(A Queda da Bastilha preconizada na história linear como 14 de julho de 1789, começou muito antes, no movimento das várias Comunas. A ideia de uma história em "espiral crescente" com um núcleo da partida das ações de reação deve ser levada em consideração até culminar com o ato definidor ao longo do tempo histórico.)

As formas tradicionais do jogo mudaram desde as observações de Walter Benjamim, mas não os interesses financeiros das grandes instituições bancárias que “bancam” ao alto custo tudo o que há de interesse da FIFA (Fédération Internationale de Football Association) e CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a primeira uma empresa internacional que manipula todas as competições futebolísticas mundiais e a segunda uma empresa privada mancomunado com o governo brasileiro, que aporta via BNDES ou proventos públicos sacados de áreas mais urgentes para financiar  jogo de futebol que sangram necessidades como educação digna, saúde, habitação, transporte, trabalho e renda justa sem paternalismo de distribuição de esmolas via bolsa de ajuda de subsistência.
"O BURACO É MAIS EM BAIXO"!

Assim uma competição em andamento, a Copa das Confederações, é ditada pelas regras padrão FIFA, em estádios modernos em locais onde nada há de infraestrutura para mitigar a pobreza brasileira, e outros em capitais mais afamadas, mas que sangram cofres públicos, pela falta de um planejamento adequado.
Para este evento deslocou-se uma grande parte da mídia internacional para  a  cobertura esportiva, que além disso mostra as belezas do Brasil, “gigante pela própria natureza”, mas a mesma mídia deparou-se com a verdadeira história do Brasil, de pobreza misturado com o lodo político que vivemos, somado com a falta de segurança total! 

Um governo justo, não vive da miséria de seu povo. Não se pode viver de pão e circo, aceitando a submissão ou o ópio moderno de controle da nação, o futebol. Não se precisa mais de futebol do que do bem estar da população como um todo. Todos os estádios construídos no Brasil receberam aporte financeiro acima das condições de gastos do país, mas isso vai ter uma repercussão futura, afinal depois das festas cairão as duplicatas bancárias. Não se pode aceitar o cabresto do Estado e o povo eternamente dizendo amém.

Elitizaram o futebol, a ilusão do povo brasileiro, acabaram com a geral, querem agora teu sangue, “impávido colosso”; não caias na armadilha política!!!

Bibliografia:
Freitag, Bárbara. Teorias da Cidade. Campinas, SP: Papirus, 2006.



Veja texto:
Viva o futebol, abaixo a educação!



[1] Há 110 anos o conde monarquista Afonso Celso escreveu um livro, Por Que me Ufano do Meu País, em que defendia a superioridade do Brasil por motivos como a grandeza territorial, a beleza natural, o clima ameno, a índole feliz e a mistura racial. (Quem acha que foi Gilberto Freyre o primeiro a fazer a exaltação da mestiçagem, portanto, está muito enganado.) Quando criei a seção Por que não me ufano já na primeira coluna Sinopse, em 1996, muitos acharam que significaria “Por que não gosto do Brasil”, esquecendo que sou contra o orgulho nacionalista em geral, não apenas em particular, e que, se quisesse o mal da nação, não me daria ao trabalho de martelar suas mazelas. E convenhamos que toda semana somos martelados por elas.

[2] Observador existencialista da cidade com o seu movimento constante.

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