quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Escultor Marino Del Favero e a Imagem de Nossa Senhora da Penha no Bairro Jardim São Luiz/SP

A ARTE ITALIANA NA PERIFERIA


Marino Del Favero nasceu na Província de Belluno, comuna de San Vito di Cadore, região de Veneto em 03 de março de 1864. Era de uma família de artistas entalhadores com formação na academia veneziana como seu tio Giovanni Battista de Lotto, com que iniciou a atividade da arte tanto de entalhe quanto na escultura em mármore.
Região de Veneto-Itália

Província de Belluno-Cadore


Giovanni Battista de Lotto, conhecido por Tita Minoto, era natural também da região de Veneto, comuna de São Vito di Cadore, e tinha trabalhado por longos vinte anos com Valentino Panciera Besarel artista na arte de entalhamento, sendo natural também da província de Belluno, próximo a fronteira a Áustria.

Marino Del Favero havia “bebido na fonte” de grandes artistas italianos e conhecia profundamente a técnica de entalhe em madeira, pois permaneceu desde jovem nas oficinas de seu tio, que mais tarde voltou para sua terra natal e Marino Del Favero empreendeu a aventura de muitos italianos da região de Veneto e viajou para São Paulo.

Portanto quando Marino Del Favero veio para o Brasil na diáspora italiana já trazia na “bagagem” um grande lastro de experiência na arte de esculturas, mesmo ainda muito jovem. Muitos artesãos de muitas áreas estavam entre muitos agricultores como atestado:

...os artesãos, toscanos e do norte da Itália[1]. Também no artesanato a participação italiana foi consistente, sobretudo na cidade de São Paulo, aonde suas oficinas chegaram a mais de 2000 em 1930. (Do outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p.131)

Montou Del Favero uma oficina-ateliê em 1893 na região central de São Paulo, primeiramente conjugando todo o trabalho na Rua Barão de Itapetininga e depois fixando seu ateliê nas proximidades da paralela do antigo endereço, a Rua 7 de Abril. O adensamento do comércio do triangulo formado pelas ruas São Bento, Direita e 15 de Novembro fez com que houvesse uma expansão obrigando ultrapassar os limites do Rio Anhangabaú, sendo o Viaduto do Chá concluído em 1892, ligando os lados do vale. A cidade começava a se modernizar e ter uma urbanização compatível com o acelerado crescimento e as fábricas que extrapolavam os limites centrais da cidade indo para a região do Brás, Mooca, Ipiranga, Lapa, sendo reduto dos operários imigrantes.

O trabalho era entalhado em madeira e depois marmorizado e dourado, sendo elaborados  púlpitos, retábulos, altares, sendo reconhecido como um dos melhores escultores de arte sacra entre o final do século XIX e início do século XX no Brasil. 

Sua obra muito bem detalhada com a técnica marmorizada confunde-se com as atuais obras produzidas em gesso, sendo que até a sonoridade de bater levemente nas imagens de madeira e gesso, confundem-se ambas.

Foi vencedor de medalhas e premiações em exposições nacionais e internacionais. A imagem de São Sebastião, em madeira laqueada de tamanho natural, obteve o 1º lugar na Exposição de Arte Sacra do Rio de Janeiro, em 1920. Depois foi encaminhada para a Igreja Matriz de São Sebastião, de São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais.

Marino Del Favero protagonizou muitas as obras na Oficina-Ateliê e estão espalhadas nas cidades do Estado de São Paulo e no Sul de Minas Gerais.

Depois de criar muitas esculturas e ter trabalhado com obras de arte sacra por meio século na capital paulista faleceu em São Paulo em 23 de junho de 1943.

A IMAGEM DE NOSSA SENHORA DA PENHA e MARINO DEL FAVERO

No terreno onde atualmente está o supermercado Extra e o Assaí na Avenida Maria Coelho Aguiar, antiga Avenida São Luiz, ficava a Capela de Nossa Senhora da Penha, sob administração da Conferência de São Vicente de Paulo, da “Parochia” de Santo Amaro, Arquidiocese de São Paulo, demolida em maio de 1973, localizada em uma pequena vila de nome Penhinha. Quando houve essa desapropriação a imagem da padroeira no local ainda denominado de Penhinha foi transferida para a Paróquia São Luiz Gonzaga, que fora constituída pelo Decreto de Criação de 21 de abril de 1960 por providência do arcebispo metropolitano Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta.


A capelinha e a paróquia estavam no território do loteamento do bairro Jardim São Luiz, que se localiza no extremo sul do município de São Paulo e foi criado de acordo pela lei nº 58 de 10 de dezembro de 1937, decreto nº 3079 de 15 de setembro de 1938. Loteamento inscrito sob nº 36, 11ª Circunscrição de Registro de Imóveis, localizado atualmente na Rua Nelson Gama de Oliveira, 235/365, na Vila Andrade, Região do Morumbi, São Paulo. Tornou-se assim o 30º subdistrito de Santo Amaro, subprefeitura de mesmo nome. Iniciava-se deste modo o loteamento pela “Sociedade Paulistana de Terrenos S/A” compreendendo uma área física relativamente pequena de 840.000 metros quadrados situada além da margem do Rio Pinheiros. Desta área total 590.000 metros quadrados foram implantados lotes de 250 a 300 metros quadrados e o restante distribuídos em arruamentos e áreas verdes reservadas para praças. Foi o supra citado bairro território da Vila de Santo Amaro que possuía autonomia administrativa de 1832 até 1935.

Quando a Paróquia foi furtada levara o jacaré que havia e jogaram nas dependências da Paróquia São Luiz Gonzaga toda quebrada. Hoje não existe mais essa peça!




A imagem de Nossa Senhora da Penha hoje faz parte do patrimônio sacro da Paróquia São Luiz Gonzaga sendo que o santo padroeiro da juventude está à esquerda de quem adentra à paróquia e a imagem de Nossa Senhora da Penha está do lado oposto, ou seja, à direita. Esta última foi obra da oficina-ateliê de Marino Del Favero, e está com a pintura original, sendo que a data da vinda da imagem esta dentro da década de 1930, conforme oralidade recolhida  de Felipe Dias Lopes, sendo seu pai Constantino Dias Lopes, natural de Lugo, Espanha, que veio para o Brasil em 1886 e  foi festeiro da Capela da Penhinha, pois era o guardião da mesma, tendo as chaves para abrí-la. Felipe Dias Lopes herdou do tio Antonio de Carrardo a arte de mondar esculturas que depois de fabricado o molde reproduzia em concreto. 



No depoimento foi dito que ocorreu um incêndio na capelinha e depois de ser restaurada e “pintada toda de branco” houve por parte da irmandade a necessidade de adquirir outra imagem de Nossa Senhora da Penha para reposição, que foi comprada em São Paulo nas oficinas de Marino Del Favero que providenciou o entalhe que hoje embeleza a Paróquia São Luiz Gonzaga, sito à Rua Antonio da Mata Jr, 80, Bairro Jardim São Luiz.



Paróquia São Luiz Gonzaga: Bairro Jardim São Luiz-São Paulo

Referências:

II Seminário Internacional Patrimônio Sacro: Mosteiro de São Bento-julho de 2015: A PRESENÇA ITALIANA NA ARTE SACRA PAULISTA NA VIRADA DO SÉC. XX: A OFICINA DE ESCULTURA E ENTALHE DE MARINO DEL FAVERO - Cristiana Antunes Cavaterra

TRENTO, Angelo. Do Outro Lado do Atlântico: Um Século de Imigração Italiana no Brasil, São Paulo, Nobel 1989.

A DIÁSPORA DOS IMIGRANTES ITALIANOS: SÃO PAULO (1)





[1] A imigração italiana a partir de 1886, em São Paulo vai atingir cifras enormes, representando quase 50% da imigração total do Estado, sendo seguidos por quase 20% de espanhóis e 15% de portugueses. A meta de imigração italiana era São Paulo com a presença na fronteira do café ao longo das ferrovias Mogiana e Paulista. Ascensão social dos imigrantes que iam para as plantações de café nas fazendas eram reduzidas. São Paulo em 1872 possuía 23.243 habitantes, em 1886 possuía 44.030 habitantes, em 1890 possuía 64.934 habitantes, em 1893 possuía 130.775 habitantes, em 1900 possuía 239.820 habitantes, em 1914 possuía 400.000 habitantes, em 1920 possuía 579.033 habitantes, em 1934 possuía 1.060.120 habitantes. Essa expansão demográfica foi devido a escalada de estrangeiros imigrados. (Do outro lado do Atlântico: Um século de imigração italiana no Brasil, de Angelo Trento, p. 123)

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