sábado, 1 de agosto de 2015

Santo Amaro e o Coronel Júlio Marcondes Salgado na Revolução de 32

Pesquisa e produção de explosivos: Cenário dos Fatos

Ao iniciar-se a Revolução Constitucionalista em 1932, em São Paulo houve mobilização efetiva para a preparação de munição. Evidente que existiam limitações de produção no início do conflito, mas São Paulo possuía um parque industrial significativo e a Federação das Indústrias de São Paulo presidida por Roberto Simonsen, era de grande importância na preparação bélica de retaguarda. Nisso estava incluso a fabricação de capacetes de aço, bombas de fumaça, barracas de campanha, telefones e artigos de couro para transporte de equipamentos, fabricação de produtos químicos destinados à fabricação de explosivos, reparação de aviões, hélices, construção de porta bombas, enfim uma gama enorme de produtos industrializados sobe a égide da FIESP. 


Das indústrias mobilizadas no esforço de guerra há de se citar, entre tantas, a Fábrica Nacional de Cartuchos e Munições das Indústrias Matarazzo, tendo como diretor Giannicola Matarazzo e ainda a colaboração de Nadir Dias de Figueiredo, Ribeiro Couto, Heitor Bertacin entre tantos. Na preparação bélica de retaguarda estava também a Escola Politécnica com seu Laboratório de Ensaio de Materiais (mais tarde intitulado Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) com preparação ativa de material bélico. 


O manuseio de explosivo requeria cuidado extremo e muitos estudantes e professores voluntários arriscaram suas vidas manipulando explosivos de alto risco sendo que muitos engenheiros foram vitimas fatais em explosões repentinas. A pólvora para granadas, projéteis, de explosão, bombas para uso em aviões foram fabricadas pela Escola Politécnica. 

As primeiras granadas foram arquitetadas pelo desenhista Hans Schlueter e por Aldo Bardella que se encarregou da fundição em sua fábrica, que eram semelhantes às inglesas, mas existia a dificuldade da substituição do detonador, pois não havia tempo hábil para fabricar espoletas com anel periférico de fulminato (de mercúrio) conforme a inglesa e assim se adaptou pequenas espoletas de caça produzidas na Fábrica Nacional de Cartuchos e Munições das Indústrias Matarazzo.


As primeiras experiências com granadas foram realizadas no Campo de Marte, geralmente no horário noturno para despertar menos atenção. Outra arma desenvolvida foi o morteiro tipo Stokes, apelidado de Marcelino, em homenagem ao major José Marcelino da Fonseca, que morreu junto com o coronel Júlio Marcondes Salgado em testes Indianópolis (Congonhas, na época um descampado) com a referida arma no município de Santo Amaro em 23 de julho de 1932.



Deplorável ocorrência em Santo Amaro[1]: matéria A GAZETA, de 23 de julho de 1932

Sofremos essa manhã, uma grande perda, que não arrefecerá de certo o nosso ânimo combativo, mas que indubitavelmente causará às tropas e aos civis profundo pesar.
Essa perda foi a do bravo comandante da Força Pública de São Paulo, o brilhante oficial coronel Júlio Marcondes Salgado.
O ilustra militar, não caiu vitimado pelos adversários, mas por um desastre estúpido.
Hoje cedo o general Bertholdo Klinger, acompanhado de seus oficiais, tenente Saraiva e Pedro Celestino Filho e coronel Julio Marcondes Salgado, dirigiram-se a Santo Amaro afim de assistirem à experiências de um novo tipo de morteiro.
Quando ali chegaram várias experiências já tinham sido feitas com êxito. Prosseguiam os trabalhos normalmente quando uma das granadas, em vez de projetada para fora do tubo onde fora lançada, explodindo dentro dele. Com a explosão, voaram estilhaços para todos os pontos e um deles apanhou o coronel Marcondes Salgado no pescoço, seccionando-lhe a carótida. O bravo comandante da Força Pública caiu morto instantaneamente.
O general Klinger recebeu um estilhaço no braço, ferindo-se ligeiramente.
Feridos foram também, levemente, alguns oficiais do Exército e da polícia. Dos civis, presentes, parece que todos saíram ilesos.
A triste cena causou profunda impressão em todos os assistentes.
Foram tomadas pelo Governo, imediatamente providências, não só para os funerais do distinto oficial, como para que as operações de guerra não sentissem, com o seu falecimento inesperado, a mínima perturbação.
São Paulo ficou privado do concurso de uma das figuras militares mais representativas, mas nem por isso sofrerá, no seu poderio militar e na capacidade de ação da sua Força Pública diminuição alguma.


OUTROS FERIDOS

Ficaram feridos levemente, o tenente coronel Salvador Moya e um sargento; o capitão da Força Pública, José Marcelino da Fonseca recebeu ferimentos de certa gravidade.




Nota:
A homenagem derradeira ocorreu pelo Decreto 5602, de 23 de junho de 1932, quando Júlio Marcondes Salgado recebeu a patente de general da Força Pública de São Paulo.

Referências:

Tudo por São Paulo 1932

A GAZETA, 9 DE JULHO DE 1957, página 10 -Edição Comemorativa Retrospectiva da Epopéia de 32

A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte I – A Politécnica em armas
A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte II – A Fabricação dos Explosivos
A Escola Politécnica na Revolução de 1932 - Parte III – Os Morteiros

Os Empresários Ciccillo Matarazzo e Giulio Pignatari

Revista do Arquivo Municipal- volume 137; out/Nov/dez 1950, p. 87 a 108

Quartin, Yone. O Mackenzie e a Revolução de 32. São Paulo: EDICON, 1995



[1] A GAZETA, 9 DE JULHO DE 1957, página 10 -Edição Comemorativa Retrospectiva da Epopéia de 32 (reprodução do fato ocorrido, em publicação jornalística A GAZETA, de 23 de julho de 1932)

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