domingo, 20 de dezembro de 2015

A ARQUITETURA DO GRUPO ESCOLAR PAULO EIRÓ EM SANTO AMARO/SP

Monumento é Documento

Com a queda do regime monárquico no Brasil surge o advento republicano, com pretensões estampadas na nova bandeira: “Ordem e progresso”, tornando-se o símbolo a ser seguido somado ao ideal vindo da Revolução Francesa e embasada nos princípios do positivismo de Augusto Comte.

Na República (comumente denominada de “Velha”) foram construídas 126 conjuntos de escolas públicas pelo Governo do Estado de São Paulo, compreendida entre 1890 e 1930 que foram idealizadas como uma arquitetura típica com certa uniformidade de  significados culturais, históricos e arquitetônicos.

Essas novas estruturas educacionais expressavam toda pujança que requeria da República, nascida com os ideais reformuladores, uma nova ordem com a característica da inovação de políticas públicas educacionais reconhecidas como responsabilidade do Estado em promover ensino básico para os filhos da Pátria Livre. Este ensino básico era conhecido popularmente como curso primário, abrangendo também a qualificação do professores que deveria ser preparado em uma escola Modelo para o ofício da função.

ARQUITETURA ESCOLAR: ECLÉTICA

Às políticas das edificações públicas estavam voltadas para a estruturação de programa pedagógico por todo o interior e capital do Estado de São Paulo[1].

O ecletismo na arquitetura foi largamente usado para identificar aquele momento que se ansiava pelo progresso, tanto em obras públicas com de propriedade privada com uma fachada acrescida com platibanda de ornamento dando ao frontispício ares de mudança, mesmo enraizada num passado, buscava o futuro.

A qualidade do conjunto arquitetônico era simples, geralmente seguindo um mesmo conceito de aproximadamente uma dúzia de salas bem arejadas procurando introduzir a ventilação natural em todos os cômodos que fechavam um amplo pátio e onde estavam as atividades lúdicas das crianças.

Neste momento histórico o uso da alvenaria de tijolos, em substituição ao adobe colonial, era largamente usado seguindo um estilo padrão clássico de construção da época e as variações em muitos municípios mudavam bem pouco sendo que no interior de São Paulo pela facilidade de terrenos amplos optou-se em se fazer construções escolares de um único pavimento térreo, enquanto que na Capital paulista optou-se por uma construção arrojada com dois pavimentos, característica própria o engenheiro-arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo e Ricardo Severo, seu sócio.

OS ARQUITETOS E SUA OBRA

No interior de São Paulo muitas construções escolares seguiram o estilo arquitetônico com predominância do Ecletismo. Muitos projetos foram de autoria de José Van Humbeeck, funcionário da extinta Diretoria de Obras Públicas do Governo do Estado de São Paulo, prevendo a separação das alas masculina e feminina, bem comum na época, tendo em muitos casos a colaboração de Manuel Sabater. Estas construções fizeram parte de projeto disseminado por vários municípios do interior do Estado de São Paulo, seguindo uma planta básica com alguma alteração de fachadas.

O GRUPO ESCOLAR PAULO EIRÓ E SEU VALOR HISTÓRICO DEMOLIDO

Grupo Escolar Paulo Eiró foi instalado no Município de Santo Amaro em 12 de novembro de 1910. A construção de seu edifício foi elaborada pelo governo do Estado de São Paulo, em terreno da prefeitura, como era praxe no interior paulista a cessão de terrenos municipais com intuito de construções públicas.












No Anuário do Ensino do Estado de São Paulo consta que em 1913 a escola Paulo Eirpo funcionava em dois períodos, com nove (9) classes e com a capacidade de 240 alunos, tendo 314 matrículas, havendo uma freqüência média de 184 alunos.

Nesta referida data era seu diretor complementarista[2] o professor Ismael dos Passos Brasiliense.

No mesmo Anuário em 1915 e escola recebeu 391 matriculas, tendo uma freqüência média de 205 alunos, sendo o mesmo diretor do ano de 1913. Com a incorporação do Município em 1935, pelo Decreto 6983, o governo de São Paulo incorpora a administração sendo que a escola passa a competência estadual da capital. 

O programa pedagógico aproveitava deste modo todo este potencial para introduzir os conceitos de um novo modelo educacional que vinha a ser implantado.

O ensino primário correspondia ao curso preliminar e o curso complementar sendo obrigatório para crianças entre 7 a 12 anos. O curso preliminar era então orientado por professores normalistas, sendo ofertado em escolas preliminares ou nas auxiliares intermédias e provisórias, estas últimas regidas por regulamentos do tempo do império (de 1869 e 1887)

Havia também a preocupação de ofertar curso complementar que estava voltado aos alunos habilitados no ensino preliminar, preenchendo a lacuna entre o ensino preliminar e o secundário; para tanto, ofertava-se um cabedal de conhecimento introdutório.

Na década de 1970 o prédio que ficava na antiga Rua Campos Sales, (atual Avenida Mário Lopes Leão) foi demolido, pois estava sem manutenção preventiva por muito tempo, sendo edificada outra escola na Rua Padre José Maria, 210, próximo ao atual Terminal de ônibus de Santo Amaro, com o Ensino Fundamental I e II.



A maioria dos demais edifícios construídos no advento da República, pelo alto valor histórico na evolução educacional do Estado de São Paulo, foram tombados pelo Conselho do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT).



O antigo local da escola que tanto orgulho representou para Santo Amaro atualmente é parte da Praça Salim Farah Maluf e onde era a fachada característica do Grupo Escolar Paulo Eiró há na atualidade o Centro de Cidadania das Mulheres de Santo Amaro.






Local onde estava o prédio do "Grupo Escolar Paulo Eiró", hoje Praça Salim Farah Maluf 


Novos tempos, antigas imagens, muitas histórias!


Toda e quaisquer críticas da crônica desse momento histórico são aceitas para edificar de maneira justa todo contexto descrito.



Vide a “evolução” educacional no Brasil em:

AS “ESCOLAS” DAS COLÔNIAS PORTUGUESAS E ESPANHOLAS NA AMÉRICA

A Estruturação da Escola no Brasil após a Independência



A IDEIA DA RACIONALIZAÇÃO DO ENSINO PÚBLICO E A FORMAÇÃO DO PROFESSOR NA REPÚBLICA DO BRASIL




BIBLIOGRAFIA

São Paulo (Estado). Directoria Geral da Instrucção Publica. Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Siqueira, 1913.

São Paulo (Estado). Directoria Geral da Instrucção Publica. Annuario do Ensino do Estado de São Paulo. São Paulo: Typ. Augusto Siqueira & C., 1915.

BACHELARD, Gaston, A Poética do Espaço. 1a . Ed., São Paulo: Martins Fontes, 1989.


CORRÊA, Maria Elizabeth Peirão; NEVES, Helia Maria Vendramini e MELLO, Mirela Geiger de. Arquitetura escolar paulista: 1890-1920. São Paulo: FDE-Diretoria de Obras e Serviços, 1991.

A Importância da Função Pedagógica do Diretor Escolar: Eliezer de Jesus Vieira




[1] A história da educação – e da humanidade - não acontece fora do espaço. “A memória não registra a duração concreta, é pelo espaço, é no espaço que encontramos esses belos fósseis de duração concretados por longo tempo...” (BACHELARD, 1975).

[2] O Estado tinha dificuldades com a falta de professores e de recursos financeiros, os reformadores da instrução indicaram como paliativo ao problema as escolas complementares. O governo republicano paulista atribuiu às escolas complementares a incumbência de diplomar professores. O Projeto de Lei n. 61 de 1895, conformando a Lei n. 374, de 3 de setembro de 1895, previu em seu artigo 1º, parágrafo único: “Os alunos que concluírem o curso complementar e tiverem um ano de prática de ensino, cursado nas escolas modelo do Estado, poderão, na forma da lei, ser nomeados professores preliminares com as mesmas vantagens concedidas aos diplomados pela Escola Normal”.
INDIVÍDUOS DA AÇÃO CIVILIZATÓRIA NAS ESCOLAS NORMAIS PAULISTAS (1896-1913)

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