quarta-feira, 6 de abril de 2016

A INTRINCADA REDE DAS ARTES DO PÓS-GUERRA E O MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO

Ação e Reação do comércio de valores: direitos e obrigações

Na atualidade vemos estampada na mídia notícias que herdeiros de renomados artistas europeus tentam reaver obras que vieram para compor o acervo do Museu de Arte de São Paulo que teve todo o incentivo de Assis Chateaubriand sendo reconhecido como seu fundador juntamente com o marchand e crítico de arte italiano Pietro Maria Bardi, em 1947.

Sabe-se que muitas obras foram adquiridas em muitas partes da Europa de grandes artistas de várias tendências, por grandes museus mundiais que detém estes acervos em seus catálogos e são objetos de grande valor em exposições, merecendo toda segurança para preservar sua integridade.

Há referências (etiquetas) nas peças adquiridas para o Masp da galeria Flechtheim, mas isso não tira o direito a propriedade de quem as adquiriu. Há de se perguntar quem é o verdadeiro proprietário das obras que questionam os herdeiros na atualidade. Se houve a venda destas obras provavelmente foram feitas transações legais e regulares de comércio entre o vendedor da galeria que diante de uma quantia financeira fez o devido procedimento de constituir uma nota fiscal de venda do produto para que depois o comprador passasse por alfândegas exibindo a legalidade do produto adquirido que se tornaram integrantes do Museu de Arte de São Paulo!

Com uma visão progressista Chateaubriand foi o grande idealizador dos Diários Associados tendo participação ativa no jornalismo Nacional, sendo ainda responsável pela chegada da televisão ao Brasil, inaugurando em 1950 a primeira emissora do país, a TV Tupi e estava à frente destes negócios de arte percorrendo galerias pela Europa que tentava levantar-se da destruição da Guerra.

"Chatô"[1] sabia ser um bem humorado anfitrião, e graças ao seu senso de aproximar pessoas soube angariar para planos futuros as maiores benesses, e deste modo constituiu o acervo do Museu de Arte de São Paulo com seu amigo, marchand e jornalista italiano Pietro Maria Bardi, que dava a diretriz dizendo: 
“Nós temos que passar como dois hunos sobre a Europa devastada pela guerra comprando quadros. A nobreza e a burguesia européias estão quebradas, seu Bardi, quebradas! Se corrermos, vamos comprar o que há de melhor entre os séculos XIII e XVII a preço de banana! A firme convicção de que havia tesouros na Europa à espera de quem tivesse dinheiro na mão nascera da observação do cotidiano de franceses e ingleses, um ano antes. Chateaubriand fizera uma viagem de poucos dias à Alemanha, França e Inglaterra e voltara impressionado com o estrago e a penúria produzidos pela Segunda Guerra Mundial”. 

Um exemplo das relações com o mercado da arte na Europa em carta cabográfica  para o industrial Francisco Pignatari no endereço de sua residência na Rua Haddock Lobo:



"EM MINHAS MÃOS QUADRO VAN GOGH NOURRICE FASE HOLANDEZA CATÁLOGO COM EXPERTISE SCHOELLE CONSULTE INTERESSA CHATEAUBRIAND RESPONDA URGENTE PANAIR BRASIL PLAZA ATHENEE HOTEL PARIS ABRAÇO-PAULO SOLEDADE"

O Brasil assim, com incentivos das elites empresariais formava um acervo dos mais respeitáveis do mundo.

O Museu de Arte de São Paulo foi inaugurado em 02 de outubro de 1947: Conseguiu arrecadar 3 milhões de cruzeiros (moeda vigente no Brasil à época) da fazendeira Sinhá Junqueira, de Ribeirão Preto, do cafeicultor Geremia Lunardelli (de quem se dizia ser "o maior plantador de café do mundo") e do industrial Francisco "Baby" Pignatari, e não teve dificuldades para obter do presidente Dutra autorização para trocar os cruzeiros por dólares - quase 160 mil dólares uma soma considerael para a época. Quinze dias depois, em fervilhante festa a rigor no casarão da família Jafet, na Avenida Brasil, ele "apresentava à sociedade paulista" o produto das primeiras doações para a galeria - que agora já era chamada por todos de Museu de Arte de São Paulo:

Dois Tintoretto, um Botticelli, um Murillo

Um Francesco Francia

Um Magnasco adquiridos em Roma.

Deste modo se iniciava um acervo dos mais respeitáveis do mundo da arte.

QUEM DETÉM O DIREITO A PROPRIEDADE DO BEM PRODUZIDO E ADQUIRIDO? 
 
Bibliografia:
“O Cruzeiro”, edição de 01 de agosto de 1959, número 42, ano 31.

Morais, Fernando, 1946- Chatô : o rei do Brasil, a vida de Assis Chateaubriand. São Paulo: Companhia das Letras,1994.

Macedo, Ana Macedo de...(et al.). Baby Pignatari: O Centauro de Bronze. Porto Alegre: Metrópole, 2006.

Vide:
Baby Pignatari em Roma: Mecenas do MASP




[1] Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo. 

Sem comentários: